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Sobre o Projeto Humanidades

Os ideais de construção de uma nova proposta de universidade baseada na integração, de trabalho com a interdisciplinaridade e promoção de conhecimentos nos mais diversos aspectos sempre estiveram presentes nas ações e pensamentos dos dirigentes que iniciaram o processo de construção do Campus Macaé. Entre os anos de 2009 e 2011, momento de chegada dos primeiros professores e profissionais nas áreas da educação, ciências humanas e filosofia no Campus UFRJ-Macaé, o Prof. Aloísio Teixeira (então Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro) sonhou com a proposta de criação de um curso de graduação que contemplasse a área das Ciências Humanas no Campus Macaé. Muitas reuniões com os profissionais da área, dirigentes e apoiadores geraram estudos de viabilidade nas mais diversas propostas que foram naquele momento estudadas e pensadas. Infelizmente, em junho do ano 2012, o ex-Reitor Prof. Aloísio Teixeira faleceu subitamente, deixando o legado do início desta construção.

 

As discussões, reuniões e estudos ocorridos em 2011/2012 oportunizaram iniciativas e encontros organizados por professores e Técnicos administrativos do Campus Macaé: Mini-cursos – Poder e Conhecimento em Maio de 2011 e Razão e Afetos em maio de 2012, contando com a presença de professores convidados de outras instituições, além da participação de alunos, professores e técnicos administrativos em Educação do Campus Macaé, I Encontro de Ciência Tecnologia e Sociedade em dezembro de 2011, um conjunto de mesas redondas com a presença e apoio da então Secretaria de Ciência e Tecnologia de Macaé e professores do CEFET-RJ – Maracanã; Mesas redondas: O ensino de Filosofia e sociologia: desafios e tendências em eventos da extensão nos anos de 2011 e 2012 com a presença de diversos convidados da área de Educação e professores da Rede estadual e municipal.

 

O que percebemos é que as iniciativas em promover a discussão no campo das humanidades têm contribuído significativamente para as mais diversas formas de interação entre professores, alunos e pesquisadores no Campus Macaé, pela forma que as propostas pensam a interface entre diversos conhecimentos e as chamadas ciências humanas e sociais da maneira pela qual se organizam, distribuem e trabalham os conteúdos das mais diversas áreas do conhecimento na formação de indivíduos mais capazes de aplicarem seus conhecimentos na vida, de relacioná-los entre si e de compreenderem sua importância para o seu próprio processo de desenvolvimento. 

 

Um mundo complexo como o atual torna impossível dar conta de seus problemas mediante uma única linguagem. No entanto, boa parte do trabalho hoje desenvolvido nas ciências, e as Humanas não lhe fazem exceção, se empenha em aprofundar um campo estrito e restrito. Não há dúvida de que, por essa via, avançou-se muito no rigor dos trabalhos. Contudo, isso se fez com frequência a expensas do vigor dos mesmos, de sua capacidade de inovar, de trazer contribuições efetivas para os assuntos tratados. Não é estranho, por isso mesmo, que em toda a parte surja o clamor por um trabalho que quebre as fronteiras das disciplinas, que procure ligá-las de alguma forma. Cabe portanto sustentar a hipótese de que o revolucionário, nas Humanas e nas Humanidades, estará, sem renegar a necessidade de uma reflexão rigorosa, em apostar na inovação mediante uma contestação de suas fronteiras.

 

A questão se torna ainda mais premente porque vivemos, hoje, a partir dos avanços na pesquisa do genoma e nas neurociências, uma contestação da fronteira básica que legitima as ciências humanas: a linha divisória entre natureza e cultura. Ao longo de todo o século XX, essa fronteira – que em seu princípio remonta ao XVIII – se manteve, embora sempre sob tensão: aceitou-se que o estudo sobre o homem, enquanto ser vivo, competisse às ciências biológicas, enquanto o conhecimento dele como ser histórico e criativo distinguiria as ciências humanas. Ora, nos últimos anos o trabalho de ponta nas ciências biológicas tem procurado anexar muito do que pertencia à cultura. Contudo, a própria formulação dos mesmos, o decisivo apoio que têm recebido das agências de pesquisa, dos governos e da empresa privada, bem como seu enorme impacto na mídia, tornam prioritário refletir sobre o que são as fronteiras entre as ciências. É possível que, nas próximas décadas, mude a linha divisória entre natureza e cultura.

 

O monoglotismo científico e/ou cultural ocorre quando uma língua — por exemplo, a de uma ciência — aparece como a única ferramenta pela qual um pesquisador, ou um estudante, ou mesmo qualquer pessoa, aborda o mundo. Tal ocorrência é duplamente insatisfatória. Em primeiro lugar, dificulta o avanço na pesquisa, já que é bastante improvável que uma língua, seja ela qual for, dê conta da variedade dos fenômenos. Em segundo lugar, dificulta o amadurecimento do pesquisador, que tenderá a confinar-se num só campo de sua formação e terá maiores empecilhos para crescer e, sobretudo, inovar.

 

Daí, a importância estratégica que as Humanidades assumem no projeto deste evento, como via mestra para alavancar os estudos em Filosofia e as Ciências Humanas e Sociais em Macaé e região. Aqui está a grande novidade da área de humanidades enquanto proposta, para enfrentar um problema que tem geralmente sido detectado: do confinamento do saber e do pensar.

 

Ao investirmos em no campo de estudos da Filosofia e das Ciências Humanas, expressamos o desejo de ultrapassar a concepção fragmentada do mundo a qual transforma os homens em objetos destituídos de consciência própria e altamente manipuláveis, contribuindo para integrar o homem no universo complexo em que vive, fazendo-o participar da história de sua sociedade na medida em que vai construindo sua própria história.

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